sábado

Bocarra

but there are days in this life
when you see the teeth marks of time

(Interpol, "No I in threesome").

sexta-feira

Sete

Os santos encaram firmes os rostos transtornados de dor. Mas não julgam nada, em sua perfeição de santos. Reunidos, lamentamos a falta, choramos a dor, rememoramos a vida.
Pela primeira vez de preto, veste sobretudo soluços e crispação.
Retorna, ainda uma vez, à sua sala. Vazia.
E pensa como sete dias são ninharia em face de tudo o que foi: uma vida.

quinta-feira

Seis

Chás, cama e colo: receitas de convalescência. Litros de chá, quente e fumegante, servido na louça mais antiga e delicada. A cama, ninho de edredons, esconderijo e proteção. O colo, às vezes só faz ampliar a ausência. Em raras ocasiões, porém, é se aninhar pequena na palma das mãos de Deus.

quarta-feira

Cinco

Esquecida da sensação de pisar o chão. Ainda parada naquela sala, só faz escorrer por fora de tudo o que houve desde então, incapaz de virar o rosto, incapaz de quebrar o vidro.

terça-feira

Quatro

O sono é pesado demais. O estômago, pesado demais. Os ombros pesam toneladas. Há momentos em que os mortos são pesados por demais.

segunda-feira

Três

Acompanhou o cortejo, trôpega. Ressentimento do corpo, forçado a se mover devido à inclemência do relógio, insistente na marcação do compasso dos segundos, minutos e horas. Dos dias, pensou com susto e dor. Tanta dor que as pernas falharam um instante, enquanto ela atravessava o abismo.

domingo

Dois

Os olhos vermelhos e secos. O corpo moído em cadeiras, bancos de madeira, falta de sono. Ainda parada na sala, embora recebendo parentes, apoiando-se nos amigos. O céu indecente de azul, como se nunca mais fosse anoitecer, O sol explodindo o branco dentro dela, breve alívio de olhos cerrados.

sábado

Um

Amparou-se no sofá da sala, telefone na mão, boca ainda entreaberta. Sem gritar. Sem chorar. Permaneceu, apenas - assombrada e muda, a pata de elefante sobre o peito e a respiração difícil. Ficou ali. Por tanto tempo que pressentiu a eternidade.