sexta-feira

Seis

Mais um dia que começava, e ela resistindo a deixar a ansiedade dominar.
Depois do almoço, uma moqueca farta em coentro, pimenta e leite de coco fresco, deitou na cama e ficou em silêncio. Sem dormir.
Só deitada, sentindo o movimento da maré enchendo. Não sabia, mas pressentia. Aquele era o dia em que suas vidas iriam mudar.
Pensou no marido, em quanto o amava, se conseguiriam adaptar-se à vida nova. Pensou em sua mãe e em sua avó, e em suas tias e suas bisavós, e nas mulheres que - desde o início dos tempos - abrigavam tantos mistérios dentro de si e davam a luz somente ao mais óbvio e milagroso deles. Pensou tantas coisas e em nada, ao mesmo tempo, que até escutou o "ploct" de algum lugar dentro dela: a decisão do filho em se dar a conhecer; o estalo da represa começando a abrir; o ponto de virada do carrinho e o imenso vazio da montanha-russa abaixo. Sorriu, feliz. Inteira, mergulhada em medo e mel.

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